Por Moséis Ferreira, do Blog O Chaplin
Antes de você seguir a leitura desse texto, responda-me: Você vai ao teatro ou ao Teatro Riachuelo? Você vai prestigiar um trabalho, uma obra, um espetáculo ou vai tirar o-tal-do-selfie para postar nas redes sociais? Você vai com sua melhor roupa, claro. Comporta-se com a melhor postura para adentrar em um estabelecimento belo, bonito, maravilhoso, encantador. Mas de que vale isso, se você não sabe respeitar o artista no palco e muito menos a pessoa que se encontra ao seu lado? Se não tem delicadeza de perceber a essência, a energia que emana do palco, dos atores, do texto, em mim.
Esse momento é o momento de conexão, de se permitir, de se doar a arte deixando as emoções cotidianas de lado e tudo aquilo que nos prende, tudo aquilo que nos dói. Não é o momento de dizer aos amigos pelo Whatsapp que se encontra no Teatro Riachuelo assistindo a uma peça só pra bancar uma de bacana, de culto. Acredito que esse tipo de gente não sabe nem o nome do espetáculo. Digo isso, porque no momento em que seu celular acende, vibra, apita, ele me atrapalha, desvia meu foco pra vida, logo eu que sempre quero viver na ficção.
Perdoem o desabafo, mas não gosto de compartilhar esses momentos com gente que não respeita o trabalho de profissionais que se sacrificam para nos mostrar o que muitas vezes não vemos. Se você não sabe assistir a um espetáculo que nos fere de forma épica, que nos causa inquietações, que não deixa o riso frouxo e sem sentido ser o melhor momento da obra, não vá, fique em casa. Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada, assim já diz Martha Medeiros.
O espetáculo Anne Sullivan e Helen Keller – A luta pela inclusão social, tenho certeza, sofre preconceito. Quando eu convidei alguns amigos para prestigiarem o trabalho, eles foram bem categóricos: Deve ser chato, vou nada! E vejam bem, muitos estudam teatro comigo. Mas tudo bem, respeito o gosto de cada um. Mas percebam se estou certo: só pelo fato do título conter “a luta pela inclusão social” acredito que muitos deixaram de ir por acharem que seria um espetáculo maçante, cheio de tédio e tragédia. Ledo engano, leitores!
Anne Sullivan e Helen Keller é do tipo de trabalho que ainda estou aplaudindo por todas as coisas que eu pude refletir durante e depois da obra. Um trabalho que fala sobre perseverança e amor na atitude de um professor em sua profissão, na possibilidade de uma melhor relação de aprendizado entre professor e aluno. Leitores, no teatro não importa o quê, mas sim, o como. E o modo como foram trabalhadas essas questões dentro da obra foi fantástica! O final, então, foi lindo! A emoção foi tamanha que nem mesmo a atriz segurou as próprias lágrimas.
Em um momento da peça, a personagem Anne Sullivan declara: Há várias maneiras de ser cego. Fico aqui pensando se metade dos que estavam presentes não sofrem da cegueira que a ignorância nos oferece. Nesse momento, entendo perfeitamente quando Jerzy Grotowski fala que a essência do teatro é um encontro. Como estudante de licenciatura em Teatro, eu pude avaliar o tipo de professor que me tornarei. Preciso ainda de muita Anne Sullivan na veia, assim como muitos. Preciso de mais encontros com obras como essa que me tira da passividade, do comodismo dos pensamentos cotidianos.
Sabe por que devemos nos preocupar com arte e assistir a trabalhos assim, leitores? Para cruzar nossas fronteiras, vencer nossas limitações, preencher nosso vazio existencial. Utilizo as palavras do mestre Grotowski em seu livro Em Busca de um Teatro Pobre para poder expressar o que Anne Sullivan e Helen Keller me ensinaram: enquanto uns esperavam a comicidade, o riso solto, a descontração, eu fui pelo caminho contrário, fui em busca de mim numa obra que mereceu todos os prêmios que recebeu internacionalmente.
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