Por EMÍLIO FIGUEIRA
Foram tantas manhãs de sábados que levantamos com o
objetivo de vir às aulas de teatro. Cada um chegando de um lado, encontros e
abraços. Aulas de aquecimento com o Geraldo. Cada um se superando em suas
próprias limitações, descobrindo-se em novas possibilidades. Cada um
compartilhando o seu universo com os outros; ao mesmo tempo observando e
aprendendo como o modo de ser e de viver de cada companheiro. Nas ajudas mútuas
as limitações, físicas, motoras, mentais, visuais, existenciais – sejam quais
fossem elas! – naturalmente tornavam-se pequena diante de tantas qualidades e
forças humanas.
Em
seguida vinham os ensinamentos e exercícios cênicos da Nina. Às vezes tinhamos
o grande presente de receber a visita do Meceni que se sentava e ficava nos
observando com aquele rosto sereno que nos passava o reflexo de tantos anos de
experiência. Novas descobertas pessoais e em grupo. Ao mesmo tempo em que
muitos entravam e saiam da nossa trupe, sempre deixaram suas marcas, grandes
lembranças. Mais do que teatro, fomos construindo o verdadeiro palco das
superações, onde o impossível eram apenas coisas possíveis ganhando forma e se concretizando
em realidade!!!
Os
sábados somados tornaram-se meses. Juntos, Nina e Meceni definiram o tema, o
texto e a forma que queriam para o nosso espetáculo. Começaram a definir os
papéis, recebemos os scripts. Primeiras experiências de montagens cênicas. Algo
tomando forma e pronto: os ensaios das
apresentações começaram a rolar na nossa, carinhosamente, salinha!
Agora
descemos as escadas rumo à sala Gil Vicente. Estamos no palco principal das
nossas apresentações. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, subimos importantes
degraus em nossas conquistas e na construção do nosso espetáculo. Começamos a
lidar com outras novidades. Conhecer e explorar toda a dimensão física do
palco, a lidar com a luz. Conhecer, entrar e sair da marcação de cada um no
tempo certo. Saber interagir e trocar com o parceiro de cena. Atenção para os
momentos certos de entrar no palco e voltar à coxia. E olha que de ensaio a
ensaio outras novidades entrarão, lidar com o figurino, maquiagem, com as
músicas e coreografias, enfim. Esperamos essas novidades entrarem naturalmente,
pois não serei eu que ficarei explicando o “pai nosso” para vocês, meus caros
vigários!
Mas uma
coisa eu preciso dizer. A grande marca do nosso projeto é a convivência e a
construção coletiva semana a semana. Aqui ninguém é uma Fernanda Montenegro, um
Toni Ramos, um Lima Duarte, uma Adriana Esteves, enfim, todos outros nomes que
eu poderia citar como referência de grandes atores e atrizes. Só que nada
impede que sejamos um dia. Mesmo porque o mercado artístico é dinâmico e se
renova constantemente.
Só que para
se chegar ao nível e ocupar posições dessas nossas referências, existe uma
palavra chave: CORAGEM!
Coragem
de errar sem se preocupar com os olhares dos companheiros em volta. Coragem de experimentar, criar, progredir ou
voltar na construção das personagens. Coragem de ter humildade para ouvir a
opinião dos companheiros. Coragem de ouvir a assimilar o que a diretora nos
pede e surpreendê-la arrancando de dentro de nós o melhor. Permitir que brote
este ator, esta atriz que muitas vezes está sufocado pelo medo.
Aliás,
para que o medo? Uma coisa que sempre
digo é que viver é para quem tem coragem. Na verdade eu nunca tive medo de
mudar, experimentar, ariscar na vida. Eu sei que
não sou melhor que ninguém, mas faço parte de um grupo de pessoas que
têm essa coragem e, mesmo tendo tudo contra a sua realidade, não medem
esforços. Buscam forças onde menos se espera, acham brechas em situações
adversas e vão em busca de seus sonhos. Chegam aonde desejam ou até mais
longe...
Como eu
disse, eu não sou melhor que ninguém. Mas quis citar o meu exemplo só para
poder dizer. Vamos lá gente, a vida nos presenteou com a oportunidade de neste
momento estar participando de uma peça, de pisar e brilhar num palco
profissional. Vamos dar o nosso melhor. Soltarmos, distrairmos em cena, fazer
do ato de atuar uma grande brincadeira séria. E “brincar” tornará nossas
apresentações tão mais leve e descontraídas, que o resultado serão os aplausos
da plateia.
O medo,
a insegurança, a perfeição não foram convocados pela Nina. Eles não fazer parte
do nosso elenco, não precisam nem de longe pisar no palco e muito menos
repousar na coxia. Aliás, se vocês olharem o contexto desta crônica, terão
erros de gramatica, grafias, enfim. Mas mesmo assim eu não me intimidei em escrevê-la.
Foi uma forma que achei para que, simbolicamente, eu abrace e olhe dentro dos
olhos de cada um e diga de todo o meu coração: “DÊ O SEU MELHOR. EU ACREDITO
MUITO EM VOCÊ!!!”
Vamos lá gente. O palco das superações que
estamos construindo todo esse tempo juntos não acabou. Ele apenas está nos
lançando ao grande desafio de realmente provarmos que somos atores de muita
capacidade e brilho quando a assunto é auto superação!
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